sábado, 12 de fevereiro de 2011

Uma Esfolhada no Minho

      A esfolhada fez-se na eira espaçosa e desafogada de José das Dornas e por formosíssima noite de luar (...)      Um enorme monte de espigas ocupava o meio da eira (...)
     Sentados em círculo, à volta daquela alta pirâmide, trabalhavam azafamados parentes, criados, vizinhos, amigos e conhecidos que sempre afluem aos serões desta natureza, ainda quando não convidados.
     (...) Às vezes saltava ao meio do círculo uma criança com grandes bigodes, feitos de barba de milho.
     As raparigas e rapazes atiravam uns aos outros o orgulho que por acaso encontravam nas espigas, o que introduzia grande alvoroço na assembleia e enchia os ares de gritos e de vozearias atordoadoras. (...)
     - Milho-rei! milho-rei! milho-rei! (...)
     Aquele grito partira de José das Dornas, que fora o primeiro a cujas mãos concedera a sorte, enfim, uma espiga vermelha.
     À exclamação do lavrador respondeu grande alariado na assembleia. De todos os lados se pedia o cumprimento da lei das esfolhadas. Cabia pois a José das Dornas fazer a primeira distribuição de abraços.







Júlio Dinis, «As Pupilas do Senhor Reitor» (romance publicado em 1967)

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